Recuperações judiciais devem subir em 2025, com tarifaço, juros altos e freio na economia; entenda

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Recuperações judiciais devem subir em 2025, com tarifaço, juros altos e freio na economia; entenda


Pedidos de recuperação extrajudicial e reestruturação de dívidas também devem ter novas altas neste ano. Indústria no Amapá
Senai/Divulgação
As incertezas com as tarifas impostas pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, juntamente com os juros elevados e os sinais de desaceleração econômica do país, podem prejudicar as empresas brasileiras neste ano, apontam especialistas.
A expectativa é que esse cenário deve piorar o acesso ao crédito e aumentar o número de recuperações judiciais, extrajudiciais e de reestruturação no setor privado. (🔍 O que é recuperação judicial?)
A desaceleração econômica já era dada como fato pelo governo brasileiro e pelo mercado financeiro, mas especialistas alertam que o cenário internacional está repleto de incertezas.
O auge foi o anúncio do tarifaço de Trump no início de abril, que gerou preocupações com a economia dos EUA e com as consequências de um possível aumento da inflação. Com mais tarifas, os preços de insumos e produtos podem subir para os consumidores americanos.
A inflação mais alta pode levar o Federal Reserve (Fed, o banco central dos EUA) a aumentar novamente os juros, desacelerando a maior economia do mundo mais do que o previsto.
➡️Aumentar os juros é a estratégia usada pelos bancos centrais para controlar a inflação, encarecendo os empréstimos e desestimulando tanto o consumo das famílias quanto o investimento das empresas.
Em geral, juros mais altos nos EUA costumam atrair o capital de investidores para o país e fortalecer o dólar. Para o Brasil, isso se traduz em um real mais fraco e uma inflação mais alta, levando o Banco Central a também aumentar os juros.
Mas até esse antigo conceito da economia tem sido contestado, já que a imprevisibilidade da agenda de Trump é tamanha que investidores chegaram a desconfiar dos EUA como porto seguro para seus investimentos. Tanto que o dólar já acumula uma desvalorização de mais de 8% em relação ao real desde o começo do ano.
Mas mesmo com o dólar desvalorizado, a incerteza não dá segurança ao BC brasileiro para voltar a baixar os juros. Os especialistas consultados pelo g1 dizem que o ambiente de taxas elevadas tem aumentado o custo do financiamento e já prejudica a saúde das empresas brasileiras desde o ano passado.
“Ainda existem muitas companhias que precisam de capital, mas não conseguem captar com os juros atuais ou sabem que, ao se endividarem agora, dificilmente conseguirão pagar lá na frente”, afirma Osana Mendonça, sócia de recuperação judicial da KPMG.
Os últimos dados da RGF Consultoria, por exemplo, apontam que pelo menos 4.568 empresas estavam em recuperação judicial no último trimestre de 2024, um aumento de 12,9% em comparação ao mesmo período do ano anterior.
“Em 2025, vemos uma situação econômica ainda mais difícil, com uma série de influências externas também começando a pesar”, diz Rodrigo Gallegos, sócio especialista em reestruturação da consultoria, citando a guerra da Rússia contra a Ucrânia e o tarifaço de Trump.
Número de empresas em recuperação judicial sobe no país
Os mais afetados
Para os especialistas, o agronegócio foi e ainda tende a ser um dos setores mais impactados — parte por causa dos fenômenos climáticos recentes e parte devido ao cenário macroeconômico.
“Os problemas do agronegócio ficaram mais evidentes em 2025, com várias empresas do setor e alguns produtores rurais pedindo recuperação judicial ou até extrajudicial”, diz Mendonça, da KPMG.
Ela explica que, apesar dos estímulos cedidos pelo governo ao setor nos últimos anos, grande parte dos casos no segmento ocorreram devido à falta de uma boa gestão de caixa.
Normalmente, os produtores que necessitam de dinheiro antes da produção também precisam organizar o orçamento para esperar a época de colheita. O dinheiro pode fazer falta nesse período, especialmente para as safras mais demoradas.
“Além da taxa de juros muito alta, o mercado sofre os efeitos da guerra na Ucrânia, que prejudicou muito o valor dos insumos e fertilizantes que o setor precisa. Tudo isso tem impacto”, afirma a sócia da KPMG.
A oscilação nos preços das commodities no exterior também diminuiu os retornos do agronegócio. Mas setores como o varejo, o setor de energia e até mesmo os clubes de futebol foram afetados pelo cenário mais difícil no comércio exterior, explicam os especialistas.
No último ano, por exemplo, empresas como Bombril, Gol Linhas Aéreas, Casa do Pão de Queijo, Supermercado Dia e Casas Bahia, por exemplo, estão entre aquelas que pediram recuperação no último ano, bem como clubes de futebol como o Cruzeiro, o Coritiba, o Chapecoense e o Botafogo.

O que esperar à frente?
Com tudo isso em conta, os especialistas esperam um aumento no número de pedidos de recuperação e reestruturação neste ano, explicadas pelas incertezas internacionais e pelo ambiente macroeconômico.
Mas há outro fator que contribui para esse movimento: muitas companhias veem esses processos como uma alternativa para tratar suas dívidas, o que também contribui para o aumento de pedidos, especialmente de reestruturação e recuperação extrajudicial.
➡️A recuperação extrajudicial é feita diretamente com os credores da empresa, sem a supervisão do Poder Judiciário e apresentação de um plano de recuperação aprovado pelos credores e homologado por um juiz, como acontece na recuperação judicial.
Como o processo pode ser concluído de forma mais rápida e com menos burocracia, a reestruturação da dívida fica muito mais ágil.
De acordo com Juliana Biolchi, diretora-geral da Biolchi, escritório especializado em recuperação extrajudicial, muitas empresas optam pela recuperação extrajudicial porque é possível resolver partes específicas da dívida.
“Em muitos casos, tratar apenas parte do passivo já resolveria grande parte dos problemas. Às vezes, o que não cabe no caixa é a parte dos bancos ou dos fornecedores, por exemplo, e não é preciso tratar toda a dívida para obter algum resultado”, diz.
Além disso, esses processos também têm sido uma saída para empresas que buscam fusões e aquisições. Segundo a executiva, isso só é possível porque, em muitos casos, as empresas que usam essas ferramentas acabam saindo desse processo melhor do que entraram.
“Temos visto que o empresário brasileiro está mais aberto a se desfazer de um ativo porque necessita de liquidez, ou até aceitar um novo sócio ou investidor temporário que vai trazer um dinheiro mais barato”, afirma Mendonça, da KPMG.
“Então, cada vez mais devemos ver o amadurecimento de operações mais estruturadas no Brasil, trazendo não apenas fusões e aquisições, mas também joint ventures e investidores preparados para solucionar esses problemas”, completa.




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